segunda-feira, 29 de novembro de 2010

TCC-UMA PROPOSTA OUSADA DE PESQUISA

Este Trabalho de Conclusão de Curso vem debruçar-se sobre uma das maiores preocupações e interrogações da educação: o sucesso ou fracasso da alfabetização e, consequentemente, do ensino formal. O que permitiria ao aluno avançar mais rápida ou lentamente nesta conquista, com maior ou menor autonomia?

Esta reflexão remete-nos à investigação a respeito dos letramentos vivenciados por cada criança, a partir do seu universo familiar, de sua comunidade e da sociedade em que vive. Merece nossa pesquisa em particular, pois favorece, ou não, o processo de alfabetização, que servirá de suporte ao desenvolvimento de estruturas cognitivas e mecanismos de aprendizagem necessários à construção de novos conhecimentos. Tal proposta também visa deter-se nos recursos tecnológicos que a infância vem desfrutando atualmente: as mídias de entretenimento e informação. Verificar a influência e participação destes instrumentos junto ao letramento é uma das metas a serem perseguidas neste estudo.

A partir das experiências vividas, em foco, no Estágio de Docência desta graduação, aflorou a observância de diferentes bagagens construídas, ou não, pelos alunos que apresentam diferentes níveis de letramento ao ingressarem na escola, principalmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A caracterização inicial da turma 11/2010, no Relatório de Estágio, já evidenciava:

Há um nível variado de experiências trazidas na bagagem destes alunos: há aqueles que frequentaram creches, escolinhas, pré-escola e aqueles que vieram de suas famílias sem terem sido estimulados a desenhar, escrever ou conviver em grupo, há alunos que já leem e escrevem com fluência, assim como, aqueles que não sabem como segurar o lápis ou direcionar ou olhar para quem fala. A interação entre estes sujeitos é bastante enriquecedora, pois as trocas de experiências são constantes e apresentam níveis diferentes de autonomia, o que contribui para o desenvolvimento de todos. (CAPISTRANO, Marta. Relatório de Estágio. 2010, pág 07)

Tal constatação vem ao encontro do seguinte questionamento: as práticas e usos de leitura e escrita experienciados na família, escola e sociedade seriam determinantes para a construção do processo de letramento e a consequente alfabetização?

Segundo Magda Soares, “letrar é mais que alfabetizar é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno.” (Soares, 2003) A Doutora em Educação é enfática ao afirmar:

O letramento compreende tanto a apropriação das técnicas para a alfabetização quanto esse aspecto de convívio e hábito de utilização da leitura e da escrita. Portanto, é necessária a prática social da leitura que pode ser feita, por exemplo, com o jornal, que é um portador real de texto, que circula informações, ou com a revista ou, até mesmo, com o livro infantil.

Os elementos até aqui considerados permitem supor que a educadora conceitua e preconiza a contextualização significativa e o uso de tecnologias apropriadas na construção de letramentos socialmente comprometidos. Também precisamos considerar que as desigualdades sociais que permeiam nosso país e suas especificidades regionais são variadas e determinantes para a construção do universo familiar, cultural, econômico, político e social do aluno e irão incidir direta e consequentemente em diferentes vivências e bagagens consolidadas, ou não. Os diferentes usos das tecnologias disponíveis atuarão promovendo o processo de letramento e a construção da leitura de mundo, pelo educando.

Com o intuito de aprofundar tal compreensão foram observados e acompanhados alunos do primeiro ano do ensino fundamental. Ao ingressarem na escola, durante o período de Estágio de Docência que realizei, os mesmos foram sujeitos da Pesquisa de Campo, que constituiu este estudo. Esta foi realizada através de experimentação diária em propostas de atividades desenvolvidas, entrevistas junto aos responsáveis e questionário diagnóstico de vivências de letramentos, digitais ou não.

Tais sujeitos, alunos na faixa etária de 6 e 7 anos, foram analisados durante o seu turno escolar (manhã), no primeiro semestre do ano de 2010, numa escola estadual do município de Gravataí, RS.


A pesquisa junto aos sujeitos mencionados tinha por objetivo:
Investigar diferentes níveis de letramento e bagagens já construídas, pelos alunos;
Verificar a possibilidade do uso de tecnologias no processo de letramento e sua importância;
Comprovar a contribuição da proposta de Arquiteturas Pedagógicas desenvolvida junto à turma.


Tal esforço se justifica pela relevância do tema, visto que comprovar a importância e função do uso de tecnologias no processo de letramento e alfabetização poderia servir de indicativo e demonstrativo de avanços nesta área, servindo de subsídios para sustentação teórica e instrumental de ensino, assim como evidenciando consonância com os novos paradigmas sociais, que se coadunam com novos modos de produção a partir da era digital que vislumbramos. Também é preciso destacar que a natureza deste estudo permitiria projetar possíveis vantagens e desvantagens da implementação de Arquiteturas Pedagógicas, nos anos iniciais, impulsionando e potencializando o desenvolvimento educacional de todo o ensino nacional.


Finalmente cabe enfatizar que tal temática vem sendo amplamente estudada e discutida por diferentes autores, em suas diferentes áreas de atuação, buscando construir sustentação teórica e metodológica para, com segurança, trilharmos caminhos educacionais, de libertação e autonomia responsável para as novas gerações, conquistando dignidade conferida e merecida por todos.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

APRENDIZAGENS COM O TCC

Construir uma pesquisa e elaborar um estudo amplo e complexo está sendo um desafio e tanto, porém possível de ser efetivado. Se aprende muito mais do que se registra no trabalho, em si; amplifica-se visões de mundo e realidade; compreende-se a teoria que sustenta a prática, numa interminável reflexão, que leva a outras construções: uma verdadeira história sem fim.
Ser autora de novas conhecimentos desperta o ego, a vaidade, mas pesa mesmo é a responsabilidade sobre o que foi produzido.
ALGUMAS EVIDÊNCIA JÁ CONSTRUÍDAS NO TCC
Retomando o questionamento inicial: : as práticas e usos de leitura e escrita experienciados na família, na escola e sociedade seriam determinantes para a construção do processo de letramento e a consequente alfabetização?

Através da reflexão e análise de vários estudiosos da área, no assunto e seus pressupostos, da prática pedagógica em foco, durante o estágio de docência, da pesquisa de campo, estudo múltiplo de casos, a até então, interrogativa inicial, consubstanciou-se em uma afirmativa comprovada, também confirmada em Vigotsky apud Iglesias, 2010:

[...]as funções do desenvolvimento da criança começam no âmbito social, desde o seu nascimento, assim como o aprendizado. Todo conceito trabalhado na escola apresenta um grau de experiência anterior, desta forma, aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados. Para aprendermos algo, temos que estar emergidos em um meio, onde nos possibilite, o contato com aquilo que queremos aprender. “O ser humano cresce num ambiente social e a interação com outras pessoas é essencial ao seu desenvolvimento”.


Já Ramal (2002) considera que “as transformações culturais, as novas condições de produção dos conhecimentos levam a novos estilos de sociedade nos quais a inteligência é o produto de relações entre pessoas e dispositivos tecnológicos”. Partindo desse pressuposto mudam as formas de construção do conhecimento e os processos de ensino aprendizagem, também produzindo novas compreensões das relações de trabalho, cidadania e aprendizagem; o impacto das novas tecnologias.
Este estudo também comprova a importância dos vários letramentos que devem compor a bagagem necessária ao desenvolvimento do processo de alfabetização e, que são essenciais à construção de estruturas cognitivas, cada vez mais complexas, enquanto mecanismos de aprendizagem, fundamentais à tecitura de redes de conhecimento e aprendizagem futuras. Segundo Xavier (2005) “o professor precisa aprender letramentos que o aluno domina tanto quanto o aluno precisa aprender letramentos que o professor domina, e ambos precisam fazer isso enquanto dão conta do que seus pais, formuladores de parâmetros e futuros empregadores esperam da escola.”

Outro aspecto a ser considerado diz respeito a conjunto de políticas públicas para a educação: elas precisam aprofundar o combater as causas de insucesso e repetência com programas eficazes e comprometidos com a qualidade na educação. Promover diversas formas de letramentos, na escola, seria uma fonte e ponte segura de aprimoramento e desenvolvimento cultural preparatórios à alfabetização e à construção de saberes nas aprendizagens futuras. Nas palavras de Magda Soares também constatamos esta reflexão: “[...]o nível de letramento de grupos sociais relaciona-se fundamentalmente com as suas condições sociais, culturais e econômicas. É preciso que haja, pois, condições para o letramento”. (Soares, 1998, p26).
A autora relaciona escolarização real e efetiva da população e disponibilidade de material de leitura, de qualidade:
[...] criar condições para que os alfabetizados passassem a ficar imersos em um ambiente de letramento, para que pudessem entrar no mundo letrado, ou seja, num mundo em que as pessoas têm acesso à leitura e à escrita, têm acesso aos livros, revistas e jornais, têm acesso às livrarias e bibliotecas, vivem em tais condições sociais que a leitura e a escrita têm uma função para elas e tornam-se uma necessidade e uma forma de lazer.Soares,1998, p 26)

Portanto, não podemos desprezar que é necessário um conjunto de políticas públicas que garantam dignidade e cidadania às famílias menos favorecidas: trabalho e renda, saneamento e saúde, educação e tecnologias para uma real transformação social e gozo pleno de soberania.

domingo, 21 de novembro de 2010

ENFIM... O TCC

Enfim... meu TCC já tem formatação. Está sendo uma aprendizagem desafiadora, uma vez que é o primeiro, mas não será o último. Eis o resumo desta construção.
LETRAMENTOS DIGITAIS NA ALFABETIZAÇÃO
A pesquisa aqui apresentada investigou os diferentes níveis de letramentos, em um grupo específico de alunos com idades entre 6 e 7 anos, com poder aquisitivo baixo, residentes na periferia urbana de uma cidade gaúcha. Este grupo, embora particular, é representativo de significativa parcela discente da realidade sócio-educacional brasileira. Através de análise múltipla de caso, pretendi observar a participação das novas tecnologias no processo de letramento e alfabetização, no período que antecede ao domínio da leitura e da escrita, onde os alunos também são mediatizados, incidentalmente, pelas mídias de comunicação e entretenimento disponíveis a esse grupo. O estudo foi construído em momentos diferentes de ação planejada: ao longo do Estágio de Docência, sob a e intervenção diária, desta professora, no processo de letramento e alfabetização, na implementação de proposta de Arquiteturas Pedagógicas, na forma de Projeto de Aprendizagem; na pesquisa interativa junto aos alunos e suas famílias, a respeito de suas vivências e em estudo múltiplo de casos

Palavras-chave: letramentos, alfabetização, tecnologias

domingo, 14 de novembro de 2010

APRENDIZAGENS INCORPORADAS

Foram tantas arendizagens contruídas ao longo destes nove semestres de estudo, que só revisando tudo, me dei conta que pulei e não registrei as aprendizagens construídas no IV semestre, e que não poderiam ficar de fora deste inventário.

Neste IV semestre de estudos o PEAD nos proporcionou embasamento teórico-prático necessário ao desenvolvimento das disciplinas de Matemática, Ciências e Estudos Sociais, nas séries ou anos iniciais. Tendo como eixo central e interdisciplinar a construção dos conceitos de tempo e espaço, compreendemos as visões e representações de mundo, a partir da ótica de cada uma das disciplinas citadas anteriormente.

A seguir apresento um paralelo de minhas construções e conclusões nos trabalhos desenvolvidos durante este IV semestre.

“As crianças trazem consigo inúmeras vivências que, desconectadas entre si, não têm seu valor e sua significação reconhecidos. Cabe ao professor evocar tais vivências do aluno re-organizando-as e re-significando-as num contexto educacional de aprendizagem, estabelecendo relações e estruturas mentais para alicerçar novas construções e aprendizagens. Assim são construídas as noções de tempo e espaço nos anos iniciais de aprendizagem.”
“Para as crianças a noção de tempo ainda não pode ser definida, mas pode ser construída, à medida que o egocentrismo vai sendo vencido, ela vai percebendo o seu entorno e ampliando suas concepções que, baseadas em situações concretas vai relacionando com estruturas mais complexas, realizando ensaios, tentativas até abstrair a noção de tempo que acontece por volta dos 9 ou 10 anos. Conforme as leituras que realizamos a criança passa pelos estágios sensório-motor, intuitivo ou pré-operatório até construir no estágio operatório um conjunto de relações de sucessão, simultaneidade e dos intervalos, isto é, durações de tempo e continuidade.”

Partindo sempre das vivências do aluno re-ordenadas e re-significadas cabe ao professor intermediar as situações utilizando-se de questionamentos reflexivos que provoquem e promovam o despertar e o desacomodar dos conhecimentos já construídos, para que estes sejam aprofundados, discutidos, criticados, re-construídos suscitando novas aprendizagens.
Tais aprendizagens serão mais significativas, tanto quanto forem alicerçadas e construídas como redes de conhecimento abordadas em diferentes enfoques.

“Destas redes de conhecimento bem construídas ou não irão proporcionar ao educando a construção de sua leitura de mundo, sua contextualização, postura de inclusão ou não na vida sociedade (pertencimento), auto-estima, auto-crítica, questionamento e crítica social, interação ou passividade social. Daí a importância de um bom trabalho para inserção e comprometimento cidadão para o exercício da vida em sociedade.”
Tais aprendizagens serão mais significativas, tanto quanto forem alicerçadas e construídas como redes de conhecimento abordadas em diferentes enfoques.
Sendo assim, enquanto a Matemática oferece o suporte cognitivo e o desenvolvimento das estruturas mentais para a compreensão do meio social e ambiental, os Estudos Sociais ampliam a consciência de si mesmos nas relações de grupo social e as Ciências Naturais desenvolvem a percepção do pertencimento responsável ao ambiente natural.

Refletindo sobre a contribuição de cada uma destas Representações de Mundo, concluímos que cada uma delas desenvolve e aprimora dimensões diferenciadas de homem: homem racional, homem social, homem bioscêntrico. Cada uma destas dimensões vem despertar e busca promover no aluno a educação voltada para a humanização do próprio homem, isto significa, promover os melhores valores educacionais e virtudes humanas das quais cada ser é capaz de manifestar e aperfeiçoar em si mesmo.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

APRENDIZAGENS NO ESTÁGIO

Analisando as reflexões construídas durante este estágio percebi que, ao buscar implementar arquiteturas pedagógicas de relevância na construção do processo de letramento e alfabetização com meus alunos, um processo paralelo e sistemático aconteceu com a minha prática docente: a sustentação teórica da minha prática pedagógica. Desde a construção da minha carta de intenções para esse estágio procurei pressupostos, teorias e autores que se identificavam com minhas concepções de ensino, naquilo que eu acredito e pratico em minha práxis diária.

Agora constato que algo que eu buscava no PEAD, sustentação teórica para a minha prática foi concretizada por meio do uso das mídias na educação, pois tive que buscar autores e teorias, pressupostos e paradigmas para embasarem minhas ações pedagógicas e o uso de mídias, isto é, TICS foi fundamental para esta construção. Consegui articular teoria e prática, ação e reflexão numa re-estruturação interna pessoal e profissional, evidenciada em várias construções reflexivas.

Concluo que o processo, de buscar, projetar e implementar novas arquiteturas pedagógicas de aprendizagem, junto aos meus alunos, também me modificou internamente, transformando, sincronizando e sintonizando teoria e prática, ação e reflexão, re-estruturando meus saberes e fazeres, conectando vida e pedagogia. Percebo que algo que eu perseguia profissionalmente está se materializando: minha qualificação humana e profissional.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

ALFABETIZAÇÃO LIBERTADORA

Neste novo milênio outra discussão emerge dentro das práticas educativas dos anos iniciais: letramento ou alfabetização? Letramento e alfabetização é o que os pensadores que lemos sustentam. Não podemos dissociar o processo de codificação e decodificação de códigos (apropriação da escrita e leitura), sem como eles fazer a leitura de mundo e vice-versa.

Kleiman afirma que, sendo a escola o mais importante das agências de letramento, esta vem privilegiando apenas aquisição de códigos(alfabético e numérico), necessários a decodificação da leitura e escrita, introduzindo o sujeito, através do letramento, no processo de alfabetização, visando apenas o sucesso escolar, desprezando o letramento social, oferecidos pela família, igreja e outros grupos sociais existentes (esportes, trabalho, vizinhança, amizades, etc.) A autora relaciona e justifica tais práticas com as concepções desenvolvidas pela ideologia dominante na sociedade atual, que por sua vez alimenta a desarticulação entre oralidade X escrita, prática X teoria, indivíduo X sociedade, cidadania e participação, enfim, letrados e iletrados, constituindo segregações, discriminação e manutenção do regime exploratório, que o capitalismo propõe. Segundo Street, este é o modelo autônomo de letramento, que preconiza a neutralidade deste processo, desconsiderando o contexto social, histórico e criticidade, objetivando apenas a capacidade de interpretar e escrever textos abstratos, dos gêneros expositivo e argumentativo, valorizando o saber dizer, sem uma proposta emancipatória de cidadania.

Em contraponto a este modelo, Street coloca o modelo ideológico que: “pressupõe a existência e investiga as características, de grandes áreas de interface entre práticas orais e práticas letradas”, que dependem dos signicados, aos quais a escrita assume em cada grupo social e dependem do contexto e das instituições em que foram adquiridas. Tal modelo é compatível com os estudos e práxis pregadas por Paulo Freire, que afirmava ser possível “ um processo real de democratização da cultura e de libertação “(Freire, 1980).

Segundo Freire, a linguagem e o poder estão ligados e proporcionam uma dimensão fundamental da ação humana e transformação social. A educação pelo empoderamento é a educação que permite problematizar a realidade em que está inserido o aluno, em que a busca pela libertação reflexiva e crítica fornece subsídios para a emancipação integral do indivíduo. Percebendo estes mecanismos é que Paulo Freire postula uma educação crítica e libertadora, que reflita sobre as estruturas de poder presentes na educação, em especial , na alfabetização, não a reduzindo a simples decodificação de valores sonoros e construção de palavras descontextualizadas, mas uma leitura crítica e não submissa de mundo.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

EDUCAÇÃO LIBERTADORA

A proposta interdisciplinar do PEAD, do VII semestre alinhou universos bastante diferenciados, caracterizados por peculiaridades culturais e contextos específicos que, entre si, revelam realidades e necessidades educacionais particulares, mas que em comum trazem consigo a premência de uma proposta de ensino libertadora como propulsora do processo de cidadania. Refiro-me a EJA-Educação de Jovens e Adultos, à Comunidade Surda, ao processo de letramento e alfabetização que alavanca o sucesso ou fracasso escolar de todo e qualquer indivíduo.

Em um ensino voltado para a construção da autonomia do aluno, deve-se não apenas questionar a postura das instituições e formadores, assim como, discutir e construir novas propostas e linhas de ação pedagógicas, que promovam, com a participação das comunidades sua identidade , língua e cultura, rompendo com estigmas de incapacidade e exclusão social.

Refletindo sobre mecanismos de dominação que permeiam a sociedade e as instituições, Paulo Freire postula uma educação crítica e libertadora, que reflita sobre as estruturas de poder presentes na educação, em especial , na alfabetização, não a reduzindo a simples decodificação de valores sonoros e construção de palavras descontextualizadas. Mas uma leitura crítica e não submissa de mundo.

Segundo Freire, a linguagem e o poder estão ligados e proporcionam uma dimensão fundamental da ação humana e transformação social. A educação pelo empoderamento é a educação que permite problematizar a realidade em que está inserido o aluno, em que a busca pela libertação reflexiva e crítica fornece subsídios para a emancipação integral do indivíduo.

Logo, o que Freire defende não é apenas um fazer pedagógico diferente e eficiente, ou uma nova metodologia de ensino. Através dos temas geradores e da dialogicidade que eles suscitam, o autor preconiza uma educação contextualizada, significativa, politizada, não partidária, nem neutra, porém libertadora, pois promove a consciência individual e coletiva, crítica e construtiva, visando a transformação social e, consequente, humanização.

Portanto é convencido que a educação deve transformar e libertar o indivíduo que Freire apresenta e defende a construção de temas geradores a partir da leitura de mundo que os educando trazem consigo para, numa constante práxis, tomar posse de sua cidadania: “ para em diálogo com elas, conhecer, não só a objetividade em que estão, mas a consciência que tenham desta objetividade; os vários níveis de percepção de si mesmos e do mundo em que e com que estão.”( FREIRE, 1987)