domingo, 31 de maio de 2009

EDUCAÇÃO, CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE


REFLEXÃO PESSOAL
No texto Educação após Auschwitz ....Theodor Adorno atualiza para a sociedade contemporânea os horrores que marcaram a humanidade acontecidos naqueles campos de concentração nazistas, em meados do século XX. Sua reflexão principal remete aos perigos de uma re-edição real daquela barbárie instrumentalizada a que foram submetidos judeus, poloneses e soviéticos em nome de uma pretensa supremacia racial.

Entre os fatores que Adorno cita como desencadeadores daquele processo de dizimação em massa, prática de dominação, usurpação da vida humana, o autor destaca a anti-civilização, reforçada por Freud, a desagregação social, o auto poder de manipulação de massas concentrado nos meios de comunicação, a coisificação do consciente, a educação pela disciplina da dor ou dureza, a busca do interesse próprio em detrimento ao dos outros, a incapacidade de identificação.

Em determinado trecho o autor reflete e indica alguns caminhos preventivos com sugerindo medidas e investimentos necessários para que se evite os horrores de um novo holocausto.

“Se falo da educação após Auschwitz, tenho em mente dois aspectos: primeiro, a educação infantil, sobretudo na primeira infância; depois, o esclarecimento geral, criando um clima espiritual, cultural e social que não dê margem a uma repetição; um clima, portanto, em que os motivos que levaram ao horror se tornem conscientes, na medida do possível.”

Nesta reflexão o autor aponta para a responsabilidade e o valor educativo das instituições educacionais quanto ao seu papel na formação das novas gerações na construção de valores de paz, ética, respeito as diferenças, convivência multi-racial e religiosa e, acima de tudo, educação para a sensibilidade e fraternidade para com o outro e não pela dureza causada pela “rígida disciplina da dor”, como reflete o autor.

Num segundo momento, Adorno, enfatiza o estudo sistemático das causas e motivações que levaram àquele genocídio humano, investigando com todos os segmentos oferecidos pelas ciências as suas origens, raízes e potencializações para que de posse destes dados a sociedade constituída possa investir em ações que neutralizem e extirpem qualquer possibilidade de re-edição daquela barbárie instrumentalizada.

Porém o autor sinaliza para alguns perigos iminentes que podemos perceber claramente em nossa sociedade atual.

“A meu ver, a medida mais importante contra o perigo de uma repetição, é contrapor-se a qualquer supremacia coletiva cega e aumentar a resistência contra ela, focalizando o problema da coletivização.”

Nesta abordagem o autor faz menção a “supremacia coletiva cega” que pode ser entendida como aquela exercida por uma nação ou pessoa que detiver o poder absoluto, ou por um sistema de idéias como o atual capitalismo selvagem que observamos imperando em nossos desdobramentos sociais nacionais e internacionais e a consequente globalização de culturas submetidas aos princípios reguladores de mercado.

Também aqui se verifica a importância educacional das instituições ao privilegiarem estudos críticos e aprofundados com respeito aos acontecimentos históricos e atuais refletindo e participando de ações políticas e sociais visando a prática de direitos civis de cidadania e democracia.

“...ao se colocar o direito de Estado acima do direito dos membros da sociedade já está criado o potencial para o horror.”

Outro alerta que o autor faz e que podemos constatar flagrantemente em nossa sociedade é a crescente desagregação social evidenciada pela desestruturações familiares, uso de drogas, formações criminosas como gangs, quadrilhas, comandos e facções, partidos secretos de extermínio, entre outros.

“Aquilo que exemplificava apenas alguns monstros nazistas poderá ser observado hoje em grande número de pessoas, como delinqüentes juvenis, chefes de quadrilha e similares, que povoam o noticiário dos jornais, diariamente.”

Já temos notícias de índios e mendigos sendo incendiados, grupos neo-nazistas assassinando pela disputa de liderança, serial-kilers promovendo mortes em massa em universidades, lançamento de mísseis em exibição clara de força provocativa ao enfrentamento internacional, sem esquecer da miséria a que estão submetidas populações inteiras na África e em países do oriente por motivações político-raciais de dominação. Portanto já temos sérios indícios de que há potencial para uma nova barbárie como aquela de Auschwitz e esta com maior poderio bélico e tecnológico a serviço do racionalismo humano.

É possível constatar, conforme o autor reflete, que, “a sociedade civilizada” está produzindo a anticivilização, principalmente, condenando seres humanos a indignidade da marginalização, promovida por um sistema de ideológico excludente, que privilegia alguns, aqueles que detém poder e capital, submetendo a outros a sub-humanidade. Enquanto estes manipularem o sistema desprezando as necessidades dos excluídos, produzindo mais e mais marginalizados teremos as condições necessárias para um novo holocausto, e ele não tarda.

Para resgatarmos este quadro caótico não basta a ação eficiente da escola, mas há toda uma estrutura de sociedade, ideologias, dominação e interesses mundiais que precisam ser re-pensadas e re-programadas para bem da justiça social, da paz e da dignidade humana.

domingo, 17 de maio de 2009

DILEMAS EDUCACIONAIS- Versão 2


Resolvi realizar uma segunda versão deste trabalho por dois motivos: a cópia oferecida pelo pólo era defeituosa e não apresentava as cenas finais do filme onde o professor faz uma grande reflexão de vida a cerca de suas atitudes e seu trabalho educativo. Por isso, relendo o trabalho anterior e refletindo sobre o mesmo o achei incompleto e, que poderia ser melhorado. O segundo motivo foi a oportunização de prazos mais dilatados. Este último fator é primordial na construção da consistência da reflexão e aprimoramento qualitativo, não simples execução de tarefas previamente agendadas.
RESENHA
O professor, ao majorar a nota do aluno indisciplinado, busca desafiá-lo a aprimorar suas capacidades, alterando a classificação natural de desempenho da turma, deixando um dos classificados fora do concurso. Embora seus objetivos fossem nobres, buscando incluir e desafiar aquele aluno a desenvolver seus potenciais cognitivos, valores e ética, o docente não exita em corromper, ele mesmo, o concurso desclassificando o aluno mais capacitado, promovendo sua consequente frustração.


Buscando resgatar a lisura do evento, ao perceber o uso do expediente cola escrita e, num segundo, momento cola eletrônica, numa explicita demonstração de falta de ética, princípios e valores morais naquele aluno, o professor busca manter seus princípios a cerca da disputa justa, utilizando estratégia de aprendizagem de valores inserida nas perguntas finais.


Constatando seu insucesso na tentativa de desenvolver princípios éticos e virtudes naquele aluno, o professor então, questiona-se e avalia a consequência de suas atitudes, posturas e valores inseridas em suas práticas de ensino e a repercussão destas na vida de seus educandos. Vai ao encontro ao ex-aluno, então desclassificado naquele concurso, revelando-llhe que o mesmo obteve merecimento e deveria ser um dos finalistas. Com esta atitude procura redimir-se, mesmo que, tardiamente, do ato de exclusão, resultado daquela re-classificação.


Eis sua reflexão relatada no filme: “ O valor de uma vida não é definida pelo sucesso ou fracasso solitário. Meus outros alunos me ensinaram isso.”


“ Por mais que tropecemos o dever de um professor é esperar que o ensino mude o caráter de um aluno e, assim, o destino de um homem.”


REFLEXÃO:
Os princípios morais envolvidos na decisão do professor, por ocasião da mudança na classificação, foram a busca da promoção das potencialidades, competências e habilidades, naquele aluno, resgatando-o de seus desvios de conduta até ali demonstrados; a busca do desenvolvimento de valores e princípios éticos de justiça, lisura e democracia. Porém o docente modificando os critérios de avaliação, feriu os princípios éticos de empenho, capacitação, merecimento e justiça exigida na avaliação dos alunos, passa, ele mesmo a corromper o processo. Corrompendo o processo, o professor privilegiou a indisciplina e a falta de objetividade nos estudos promovida pelo aluno descomprometido.


Buscando redimir-se com o aluno desclassificado de sua iniciativa infrutífera, anos mais tarde, o professor resgata a compreensão deste aluno e os seus princípios éticos, feridos até então. Em reconhecimento ao valor deste educador e da coerência de sua conduta, conforme seus seus princípios éticos e morais o ex-aluno lhe confia, então, o filho para que este também possa desenvolver uma educação e vida pautadas em valores princípios éticos e morais, não apenas conhecimentos formais.



Este filme sucita outras reflexões além da postura e corência éticas entre professor e aluno. Uma delas diz respeito a construção da cidadania, ética e moral formatada pela sociedade, o que não é, necessariamente aquela que prima por valores de vida e cidadania coerentes.



Interessante destacar a homenagem escrita por um dos alunos ao seu professor:


Um grande professor tem pouca história para registrar. Sua vida se prolonga em outras vidas. Homens assim são pilares na estrutura de nossas escolas, mais essenciais que seus tijolos e vigas. E continuarão a ser centelhas e revelações em nossas vidas.( no filme não foi citado sua autoria)

domingo, 10 de maio de 2009

DILEMA EDUCACIONAL


Relacionando o filme “O Clube do Imperador” com o texto “ A defesa de Sócrates” vejo que ambos têm em comum a educação de jovens, a preocupação com a formação ética e cultural dos mesmos.

Sócrates, acusado por Meleto de corromper a juventude com seus questionamentos a cerca do saber, presta sua defesa à sociedade Ateniense da época, fazendo uso, de sua eloquente dialética e reflexão a cerca das verdades e incoerências afirmadas por Meleto em sua acusação. Questionando a ética, os valores, a coerência da sociedade em si, Sócrates provoca a reflexão a respeito da educação formatada por àquela sociedade a seus jovens e das verdades perpetuadas por seus membros.

O filme “O Clube do Imperador” demonstra mais uma vez que a educação não é neutra e, nem pode ou deve ser ingênua, pois em qualquer decisão, ação e atitude do professor e do aluno, estão impressos códigos de valores e ética, presentes em cada manifestação humanas e, a cada uma destas equivalem consequentes resultados sociais.

domingo, 3 de maio de 2009

DILEMAS EDUCACIONAIS


O texto apresentado para discussão no fórum O Dilema do Antropólogo Francês promoveu a reflexão e debate a cerca dos posicionamentos éticos e morais adotados pelo mesmo e suas consequências de sua interferência ou não naquela cultura.

“Refletindo sobre nossas interlocuções e a discussão a respeito do dilema do antropólogo francês podemos linkar à nossa prática educativa transpondo para nossa realidade cotidiana, pontuando:
- a qualidade de nossas intervenções frente aos alunos;
- as posturas pedagógicas, sociais, humanas e políticas que assumimos frente aos alunos;
- a leitura que fazemos de mundo e da realidade vivenciada por nós e por eles;
- a coerência entre o que pensamos, falamos e praticamos;
- a ética adotada pessoalmente e profissionalmente;
- os valores que anunciamos explicita ou implicitamente com nossas manifestações;
- os interesses, crenças e necessidades do nossos aluno são levados em conta: sondados ou pesquisados?
A princípio, o antropólogo tentou usar de neutralidade para não interferir na cultura daquele povo. Existe a neutralidade em educação?
Pensando bem...não vivemos um dilema educacional cotidiano ao refletir nossas praticas educacionais?

Conforme minha reflexão, acima citada, concluo que tal atividade serviu como provocação para re-pensarmos nossas prática educativas, equacionando as posturas adotadas em nosso dia a dia.
Se pararmos um pouco para pensar, diariamente, enfrentamos dilemas morais, ético-profissionais, ético-pedagógicos, sociais, humanos, além daquele constante questionamento: nossos posicionamentos são coerentes com aquilo que estudamos, sabemos e acreditamos? Que tipo de seres humanos estamos ajudando a formar? Nossas práticas e posturas estão construindo que cidadãos e que tipo de sociedade?

Retomando uma de minhas conclusões a respeito da provocação promovida pelo texto: “A princípio, o antropólogo tentou usar de neutralidade para não interferir na cultura daquele povo. Existe a neutralidade em educação?”

Esta minha provocação ao grupo de debate visa também desacomodar nossas consciências e posturas, no sentidos de alertar que, cada posicionamento adotado, em nossa prática educacional, gerará, como consequência, um determinado comportamento cidadão em nossos alunos, que servirá a este ou aquele modelo de cidadania e sociedade.
Portanto, e educação nunca será neutra, pois servirá a alguma ideologia dominante, seja ela de libertação e construção de uma nova realidade social ou de manutenção das estruturas de dominação. Utilizando a linguagem metafórica dos poetas podemos afirmar que, estamos realizando semeaduras no campo político, social e humano e, que num futuro, bem próximo, que já está acontecendo, vamos colher daquilo que plantamos de acordo com aquilo que acreditamos e cultivamos.

Também se faz necessário ressaltar que, nós professores vivenciamos uma verdadeira “roda-viva” de atividades profissionais, que muitas vezes, nos impedem de refletirmos nossas práxis educacionais e de nos deparamos com estes constantes dilemas pertinentes ao nosso fazer educacional (na maioria das vezes não temos tempo de refletir sobre tudo isso, em razão da sobrecarga profissional). Não podemos ser ingênuos e creditar apenas como “ossos do ofício” em nossa correria diária. Nossa sobrecarga de atividades profissionais também é resultado de políticas de não priorização da educação, com salários defasados nos obrigando a assumirmos 2,3 ou mais escolas para obtermos os mínimo de dignidade para nossas famílias. Esta sobrecarga também serve para justificar a ideologia dominante, de que o ensino brasileiro está falido, em função da falta de preparo e inadequação dos professores, responsabilizando somente esta categoria como promotora e construtora da educação em nosso país. É bastante simplista acusar e sobrecarregar apenas uma categoria profissional e eximir pais, sociedade e políticas públicas, portanto governos que se submetem ao modelo capitalista de produção e economia, desprezando e não promovendo a educação como prioridade nacional, transformadora da sociedade. Este é o dilema estrutural no qual estamos inseridos , envolvidos e amarrados.

Se observarmos a realidade mundial constataremos que, aqueles países que priorizaram a educação através de políticas públicas eficazes na educação, construíram maior cidadania e qualidade de vida para seu povo. Será que estamos a caminho?