Esta reflexão remete-nos à investigação a respeito dos letramentos vivenciados por cada criança, a partir do seu universo familiar, de sua comunidade e da sociedade em que vive. Merece nossa pesquisa em particular, pois favorece, ou não, o processo de alfabetização, que servirá de suporte ao desenvolvimento de estruturas cognitivas e mecanismos de aprendizagem necessários à construção de novos conhecimentos. Tal proposta também visa deter-se nos recursos tecnológicos que a infância vem desfrutando atualmente: as mídias de entretenimento e informação. Verificar a influência e participação destes instrumentos junto ao letramento é uma das metas a serem perseguidas neste estudo.
A partir das experiências vividas, em foco, no Estágio de Docência desta graduação, aflorou a observância de diferentes bagagens construídas, ou não, pelos alunos que apresentam diferentes níveis de letramento ao ingressarem na escola, principalmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A caracterização inicial da turma 11/2010, no Relatório de Estágio, já evidenciava:
Há um nível variado de experiências trazidas na bagagem destes alunos: há aqueles que frequentaram creches, escolinhas, pré-escola e aqueles que vieram de suas famílias sem terem sido estimulados a desenhar, escrever ou conviver em grupo, há alunos que já leem e escrevem com fluência, assim como, aqueles que não sabem como segurar o lápis ou direcionar ou olhar para quem fala. A interação entre estes sujeitos é bastante enriquecedora, pois as trocas de experiências são constantes e apresentam níveis diferentes de autonomia, o que contribui para o desenvolvimento de todos. (CAPISTRANO, Marta. Relatório de Estágio. 2010, pág 07)
Tal constatação vem ao encontro do seguinte questionamento: as práticas e usos de leitura e escrita experienciados na família, escola e sociedade seriam determinantes para a construção do processo de letramento e a consequente alfabetização?
Segundo Magda Soares, “letrar é mais que alfabetizar é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno.” (Soares, 2003) A Doutora em Educação é enfática ao afirmar:
O letramento compreende tanto a apropriação das técnicas para a alfabetização quanto esse aspecto de convívio e hábito de utilização da leitura e da escrita. Portanto, é necessária a prática social da leitura que pode ser feita, por exemplo, com o jornal, que é um portador real de texto, que circula informações, ou com a revista ou, até mesmo, com o livro infantil.
Os elementos até aqui considerados permitem supor que a educadora conceitua e preconiza a contextualização significativa e o uso de tecnologias apropriadas na construção de letramentos socialmente comprometidos. Também precisamos considerar que as desigualdades sociais que permeiam nosso país e suas especificidades regionais são variadas e determinantes para a construção do universo familiar, cultural, econômico, político e social do aluno e irão incidir direta e consequentemente em diferentes vivências e bagagens consolidadas, ou não. Os diferentes usos das tecnologias disponíveis atuarão promovendo o processo de letramento e a construção da leitura de mundo, pelo educando.
Com o intuito de aprofundar tal compreensão foram observados e acompanhados alunos do primeiro ano do ensino fundamental. Ao ingressarem na escola, durante o período de Estágio de Docência que realizei, os mesmos foram sujeitos da Pesquisa de Campo, que constituiu este estudo. Esta foi realizada através de experimentação diária em propostas de atividades desenvolvidas, entrevistas junto aos responsáveis e questionário diagnóstico de vivências de letramentos, digitais ou não.
Tais sujeitos, alunos na faixa etária de 6 e 7 anos, foram analisados durante o seu turno escolar (manhã), no primeiro semestre do ano de 2010, numa escola estadual do município de Gravataí, RS.
A pesquisa junto aos sujeitos mencionados tinha por objetivo:
Investigar diferentes níveis de letramento e bagagens já construídas, pelos alunos;
Verificar a possibilidade do uso de tecnologias no processo de letramento e sua importância;
Comprovar a contribuição da proposta de Arquiteturas Pedagógicas desenvolvida junto à turma.
Tal esforço se justifica pela relevância do tema, visto que comprovar a importância e função do uso de tecnologias no processo de letramento e alfabetização poderia servir de indicativo e demonstrativo de avanços nesta área, servindo de subsídios para sustentação teórica e instrumental de ensino, assim como evidenciando consonância com os novos paradigmas sociais, que se coadunam com novos modos de produção a partir da era digital que vislumbramos. Também é preciso destacar que a natureza deste estudo permitiria projetar possíveis vantagens e desvantagens da implementação de Arquiteturas Pedagógicas, nos anos iniciais, impulsionando e potencializando o desenvolvimento educacional de todo o ensino nacional.
Finalmente cabe enfatizar que tal temática vem sendo amplamente estudada e discutida por diferentes autores, em suas diferentes áreas de atuação, buscando construir sustentação teórica e metodológica para, com segurança, trilharmos caminhos educacionais, de libertação e autonomia responsável para as novas gerações, conquistando dignidade conferida e merecida por todos.