domingo, 15 de novembro de 2009

PERFIL DA EJA, segundo Marta Kohl


a)Características do aluno jovem e adulto
Identidade
Conforme Marta Koll Oliveira descreve, o aluno do EJA é, geralmente, o migrante, oriundo das áreas rurais mais pobres, os filhos de colonos, não qualificados com baixo nível de escolarização ou analfabetos, com pequena passagem pela escola, buscando, na cidade grande emprego e sustento familiar. Ousaria acrescentar a essa descrição também a realidade de nossas escolas locais, onde a presença de jovens e adultos egressos do ensino fundamental regular, com histórico de reprovação, evasão ou necessidades aprimoramento profissional e, consequente, conclusão de estudos também fazem parte deste universo.

Pensamento e linguagem
A autora também define o seu lugar social: “a condição de 'não-crianças', a condição de excluídos da escola e a condição de membros de determinados grupos culturais.” (Oliveira, 1999) Portanto é possível afirmar que este alunado tem relações vínculo com o grupo social do trabalho e comunidade, é membro ativo em suas famílias e possui vivências, saberes e reflexões, assim como estruturas cognitivas peculiares provocadas pelas experiências de vida: “ provavelmente, maior capacidade de reflexão sobre o conhecimento e sobre seus próprios processos de aprendizagem.” (Oliveira, 1999). Sua faixa etária é bastante abrangente, acolhendo desde o adolescente, o adulto até membros da terceira idade.
Em comum os discente do EJA trazem consigo sua condição de excluídos da escola regular, baixa estima motivada pela repetência e exclusão social, baixa escolaridade e as características de seu grupo social de origem.
Esta descrição delineia o perfil heterogêneo deste grupo discente, o que revela a complexidade do trabalho escolar, buscando compreender suas estruturas psíquicas e cognitivas, no desenvolver de sua função cultural.

b) Dificuldades dos alunos jovens e adultos em sala de aula e no cotidiano de suas vidas
Dentre os vários fatores que a autora enumera como dificultantes no desenvolvimento desta clientela, apresenta-se o desconforto emocional(vergonha) em razão da idade cronológica, pré-concebendo que, ao frequentarem novamente escola, serão comparados às crianças, auto-rotulando-se como incapazes de aprender (insegurança). A autora também cita sua principais dificuldades cognitivas:
[...] pensamento referido ao contexto da experiência pessoal imediata, dificuldade de operação com categorias abstratas, dificuldade de utilização de estratégias de planejamento e controle da própria atividade cognitiva, bem como pouca utilização de procedimentos metacognitivos. (Oliveira,1995)

Porém não podemos atribuir unilateralmente estas dificuldades apenas aos indivíduos que dela participam. As instituições educacionais, enquanto responsáveis por este processo educativo ainda não correspondem às reais necessidades desta clientela. Os currículos, programas de conteúdos, metodologias não foram concebidos originalmente para estes, portanto precisam ser revistos e adequados aos interesses e necessidade dos mesmos; a autora menciona a “falta de sintonia entre a escola e os alunos que dela se servem.”(Oliveira, 1999)

Ao refletirmos sobre o papel da escola nesta modalidade de ensino não podemos desprezar a linguagem e as regras específicas de funcionamento da escola: elas são desenvolvidas e apreendidas em seu interior, no processo educativo desencadeado (símbolos, regras, linguagem).
Explicita a autora:
Muitas vezes a linguagem escolar mostrou ser maior obstáculo à aprendizagem do que o próprio conteúdo. Compreensão de instruções, particularmente quando por escrito, também constituía, ainda, grande parte do problema a ser resolvido. (Oliveira, 1987, p. 19-29)
c) Conceitos relevantes para a prática pedagógica em EJA.
Para não ser repetitivo não me deterei em abordar as questões já desenvolvidas nos enfoques anteriores, como: especificidade cultural, exclusão do ensino regular, os aspectos psicopedagógicos, fracasso escolar, evasão, repetência, práticas inadequadas, heterogeneidade cultural.
A autora foi bastante pródiga em reflexões pertinentes ao universo psico-pedagógico, estrutural-cognitivo, cultural e social em suas provocações, porém penso ser fundamental para a compreensão e atuação pedagógica na Educação de Jovens e adultos, aquela consideração com que Marta Koll Oliveira conclui seu trabalho, pois encerra e pontua vários conceitos através dela:
A escola voltada à educação de jovens e adultos, portanto, é ao mesmo tempo um local de confronto de culturas (cujo maior efeito é, muitas vezes, uma espécie de “domesticação” dos membros dos grupos pouco ou não escolarizados, no sentido de conformá-los a um padrão dominante de funcionamento intelectual) e, como qualquer situação de interação social, um local de encontro de singularidades.(Oliveira, 1999)

Estão presentes nesta conclusão os conceitos de: interação entre diferenças culturais, suas significações, visões diferenciadas de mundo, pertencimento a grupos sociais e papéis diferenciados, conquistas psicológicas e culturais, singularidade do processo de cada sujeito, recriação cultural e negociação interpessoal, múltiplas trajetórias de vivência e construção do conhecimento, sem desprezar o entrecruzamento entre o psiquismo pessoal, biológico, histórico e cultural.

Referência Biblográfica:
OLIVEIRA, Marta Koll. Jovens e Adultos como Sujeitos de Conhecimento e Aprendizagem, Trabalho Apresentado na XXII- ANPEd, Caxambu,1999.

3 comentários:

Patrícia_Tutora PEAD disse...

Olá Marta! Tua postagem revela a apropriação teórica que fizeste em torno da EJA, compreendendo as especificidades dessa modalidade de ensino.

Gostaria de aprofundar a questão da identidade. Você cita que alunos com histórico de reprovação nas escolas públicas fazem parte da identidade de alunos da EJA. Muitos deles desistem porque não se adaptam ao sistema escolar e, consequentemente, reprovam, evadem.

Portanto, a EJA, em muitos casos, não seria então uma forma de trazer de volta à escola alunos que não tiveram sucesso em idade escolar?

Volto para continuarmos...

Marta Capistrano disse...

Sim. Nos estudos que fizemos sobre a realidade educacional brasileira, indica que o resgate dos alunos egressos do sistema de ensino regular também é função do EJA.

Kelly disse...

Obrigada pelo Resumo marta! Muito bom!