domingo, 6 de dezembro de 2009

A CULTURA SURDA E SUAS LUTAS


Segundo o texto A Máscara da Benevolência, de subtítulo, a comunidade surda amordaçada, de autoria de Harlan Lane, a cultura ouvinte se sobrepõe à cultura surda: língua, identidade e necessidades submetendo-a à classificação dentro de seus parâmetros de “normalidade,” saúde e capacidade, amarrando-a, politicamente, com o destino de verbas configurado para deficientes, desrespeitando-a, sem abrir espaço não só para suas manifestações mas o seu direito legitimo à cidadania e ao processo de interação social e política a que têm direito.

O texto sugere duas vias de ação à comunidade surda: enquadrarem-se no sistema audista, aceitando sua formatação de incapacitados a exercer a plena cidadania ou lutar contra este sistema de inclusão excludente, desafiando-o.

Em um ensino voltado para a construção da autonomia do aluno, deve-se não apenas questionar a postura destas instituições e formadores, assim como, discutir e construir novas propostas e linhas de ação pedagógicas, que promovam, com a participação da comunidade surda sua identidade , língua e cultura, rompendo com a formatação de incapacitados ao convívio social e à cidadania.

Passo, então, a analisar os desafios dos surdos para uma participação ativa na sociedade.

Penso que o primeiro passo seja a barreira da língua e da comunicação: eles precisam ser entendidos e nós precisamos buscar compreendê-los para que haja conhecimento, interação e respeito, espaço para a demonstração de suas habilidades e capacidades. A instituições educativas tem um papel fundamental neste processo, porém a sociedade não pode eximir-se de sua contribuição. Em segundo momento seja necessário um amplo debate social buscando neutralizar os pré-conceitos e discriminações quanto a aceitação das indiferenças, desmistificando o rótulo de incapazes. A sociedade precisa abrir-se e receber ao novo, ao diferente. As políticas públicas também precisam abrir espaços de ação e desempenho produtivo, educativo e cidadão, também para esta minoria a ser incluída. Também é necessário que a comunidade surda fortaleça-se criando espaços de participação e representatividade na vida social, política, econômica e cultural, articulando-se com órgãos internacionais para a construção de novas perspectivas.
madores, assim como, discutir e construir novas propostas e linhas de ação pedagógicas, que promovam, com a participação da comunidade surda sua identidade , língua e cultura, rompendo com a formatação de incapacitados ao convívio social e à cidadania.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

MINHA PRÁTICA DE AVALIAÇÃO


Considero avaliação um processo de aprendizagem e reflexão sobre a caminhada, por isso mesmo, a cada atividade proposta, mantenho claros meus objetivos e metas buscando numa avaliação continuada e amadurecida, evidências de sua concretização ou não. Portanto, tudo o que é produzido ou processado pelos alunos é avaliado e serve como referência para alavancar a continuidade, revisão, reforço e projeção da próxima etapa a ser desenvolvida. Utilizo também testagens diagnósticas paral comprovar amadurecimento de determinadas noções ou conceitos, assim como, amostragem global (provas) para corresponder aos anseios burocráticos do sistema educativo e da comunidade escolar.

Os critérios que utilizo são o desenvolvimento global do aluno em relação a ele mesmo: ao seu desempenho inicial e ao produto de suas aprendizagens ao longo do trimestre. Operacionalizo as competências a desenvolver na forma de objetivos, segundo o Plano de Estudos da instituição, e desenvolvo de acordo com a PP da escola.

Sistematizado em parecer descritivo, relato ao responsáveis o desempenho do aluno em seus aspectos cognitivo, formativo e relacional, demonstrando o desenvolvimento processado neste período. Com os alunos especiais, com ou sem laudo, apresento as evoluções significativas deste educando em relação a si mesmo e não ao restante da turma, propondo inciativas de investimento no auxílio familiar, ou reforço escolar( oportunizado pela escola) e, quando necessário, encaminhando ao SOE, sugerindo investigação clínica ou acompanhamento de especialista para auxiliar o desenvolvimento do aluno (psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, psicopedagogo). Penso ser esta forma de avaliar a mais respeitosa e próxima à individualidade do aluno, pois já experienciei avaliar com notas e conceitos que dizem respeito apenas ao aspecto cognitivo do educando, parcializando e mascarando uma avaliação que deveria ser integral.

Utilizo o resultado das avaliações para refletir sobre as minhas iniciativas pedagógicas, repensando como envolver determinado aluno e suas dificuldades ou facilidades, refletindo sobre o que foi produtivo ou não, buscando novas metodologias e empreendendo ações pedagógicas capazes de promover não somente a aprendizagem, mas a auto-estima do aluno que não pode ser dissociada do seu todo, enquanto ser humano.

Posso e devo aperfeiçoar minha prática avaliativa procurando evitar reproduzir o ritual de poder e medo amplamente associado ao processo avaliativo tradicional, favorecendo um clima leve e natural durante a realização das atividades e inovando propostas de trabalhos avaliativos, no cotidiano escolar. Assim terei um perfil mais genuíno e coerente do desenvolvimento dos meus alunos.

REFLEXÕES SOBRE AVALIAÇÃO ESCOLAR


Diferenciações entre avaliação “classificatória” e “mediadora”

A avaliação classificatória, amplamente difundida nas práticas pedagógicas tradicionais, é concebida como um fim e não uma meio de viabilizar o processo educativo sobrepondo-se, até mesmo à aprendizagem, que deveria ser o foco e o objetivo final do ensino. Caracteriza-se pela mensuração de aspectos cognitivos, através de notas ou outras menções de cunho quantitativo, desprezando a integralidade do ser do aluno, o desenvolvimento de suas potencialidades, visando promoção ou retensão dentro processo educativo, numa classificação estática do desenvolvimento humano. Caracteriza-se pela aplicação de provas e testes objetivos ou descritivos que evocam conceito pretensamente memorizados pelos alunos, em momentos determinados, a parte do processo de aprendizagem, de forma ritualística. A avaliação mediadora resgata o princípio fundamental da avaliação: a emancipação do desenvolvimento do aluno, isto é, o diagnóstico de seu estágio de desenvolvimento buscando articular intervenções que promovam e provoquem novas e significativas aprendizagens(função diagnóstica e formativa) visando o seu desenvolvimento integral: afetivo, relacional, ético, reflexivo e crítico. Caracteriza-se pela visão integral do aluno como ser único, em seu desenvolvimento gradual e contínuo, não comparado a média de desempenho da turma,mas ao próprio ritmo de sua evolução pessoal, visando um processo qualitativo de aprendizagem.

Refletindo, ainda, sobre as práticas avaliativas e sua repercussão na esfera social, podemos constatar que a avaliação classificatória serve a ideologia dominante que discrimina e seleciona os mais aptos a participarem de uma sociedade excludente e ditatorial (capitalista), não inclusiva e participativa como prevê a avaliação emancipadora ou mediadora do processo de desenvolvimento do educando.

Posição reducionista da avaliação escolar

A avaliação escolar caracteriza-se por uma postura reducionista, enquanto:
a) reduz o processo avaliativo à notas e menções classificatórias, com um fim em si mesmos: resultado de aprendizagens cognitivas mensuráveis(aprovar/reprovar), legitimando a ideologia de exclusão social;
b) se constitui no momento final do processo educativo, desprezando o caráter diagnóstico e prognóstico da avaliação que deveria ser emancipatória;
c)utiliza-se de instrumentos de avaliação parcial das aprendizagens, como provas e testes;
d)privilegia a memorização em detrimento do todo do aluno: aspectos afetivos, éticos, relacionais, raciocínio lógico, científico, filosófico, humano e crítico;
e)reduz-se a momentos estanques e descontínuos do processo de aprendizagem, dentro de uma formatação ritualística de medo e poder, desconectada do processo de aprendizagem;
f)privilegia relações de poder da escola e do professor, condicionando as relações que deveriam ser dialéticas, em processo de aprendizagem, para disciplinadoras, legitimando desigualdades.

Visão unilateral da avaliação

A visão unilateral da avaliação diz respeito ao foco, no processo de avaliação, ser apenas o aluno, como se este fosse o único responsável por seu sucesso ou fracasso, desprezando a responsabilidade e o profissionalismo do professor, suas metodologias e posturas pedagógicas, as estruturas humanas, físicas, pedagógicas da instituição, assim como, eximindo a comunidade escolar, família e sociedade, de sua participação e corresponsabilidade no processo educativo. Se todo esse entorno também fossem equacionados e devidamente ativado durante o processo de aprendizagem este seria muito mais produtivo, pois suas segmentações agiriam articuladamente no processo.
A postura ética do professor frente à avaliação

Avaliar a integralidade do ser humano deveria ser uma tarefa para deuses (se estes efetivamente existissem), pois o desenvolvimento humano é tão complexo e dinâmicos que simples mortais, tão condicionados e limitados à sua parcialidade subjetiva estão, no mínimo, sob suspeita para realizar tal análise, compreensão e interpretação. É o que, particularmente, penso sobre avaliação. Porém, enquanto educadores, somos exigidos, por nossos sistemas de ensino a quantificar a aprendizagem e o desenvolvimento humano, mensurando, burocraticamente, o desempenho em resultados práticos: números, menções, pareceres. Porém não é apenas neste plano que a avaliação se consolida. Há vários fatores que são determinantes para que esta sistematização de significados se concretize: a formação do educador, seus valores, princípios e ética profissional, as concepções e metas que instituição educativa prevê em seu PP, as políticas públicas referentes a educação em seus desdobramentos legais e políticos, etc. Há toda uma teia de relações, em diversos planos que intervêm e condicionam o processo avaliativo que, em última análise, resulta no papel histórico que a sociedade capitalista propõe: exclusão X inclusão.

domingo, 22 de novembro de 2009

RETROSPECTIVA DE UM ALFABETIZADORA


Colegas... Realizando as várias leituras propostas pela interdisciplina Linguagem em Educação percebi que o foco desta está no processo de construção da leitura e escrita, em seus desdobramentos, reflexões, aportes teóricos e suportes pedagógicos.

Em minha retrospectiva profissional-pedagógica, que ora passo a descrever, está permeada destas práxis, pois nos últimos 26 anos, entre outras práticas, dediquei-me a alfabetização de várias turmas.
Nos idos anos 80, aqui em Gravataí, as discussões giravam em torno de que método alfabetizava melhor: silabação, palavração, abelhinha? Havia entre as alfabetizadoras uma certa disputa quanto ao tradicional seguro ou as inovações da moda. Mas não havia o embasamento teórico ou reflexão sobre como a criança aprende, nem o questionamento sobre a postura pedagógica do professor.
Já nos anos 90 a febre da implementação do construtivismo, surgiu como antítese daqueles métodos fechados, tendo como compreensão de liberação total: a criança aprende sozinha, sem método, sem proposta, o que foi muito rebatido e gerou muitas controvérsias entre os professores.
Aos poucos, as formações pedagógicas foram desfazendo esta má impressão inicial e os educadores foram se apropriando dos estudos de Piaget, Emília Ferrreiro e Ana Teberoski, entre outros, refletindo e utilizando como suporte pedagógicos para suas práticas tão carentes de embasamento teórico. Porém não se pode desprezar que toda aquela formação tradicional dos professores tenha sido descartada para dar lugar ao novo: na prática o “misturismo” prevaleceu.

Neste novo milênio outra discussão emerge dentro das práticas educativas dos anos iniciais: letramento ou alfabetização? Letramento e alfabetização é o que os pensadores que lemos sustentam. Não podemos dissociar o processo de codificação e decodificação de códigos (apropriação da escrita e leitura), sem com eles fazer a leitura de mundo e vice-versa. O planejamento que fiz exemplifica isto: com meu 3º ano, que acompanho desde o início da alfabetização, já estou propondo a construção de textos mais complexos, evidenciando não só as questões semânticas e sintáticas, mas provocando uma reflexão e leitura crítica que mundo globalizado, já está impondo a eles, através das comemorações do halloween ( ver a justificativa do meu projeto).

domingo, 15 de novembro de 2009

PERFIL DA EJA, segundo Marta Kohl


a)Características do aluno jovem e adulto
Identidade
Conforme Marta Koll Oliveira descreve, o aluno do EJA é, geralmente, o migrante, oriundo das áreas rurais mais pobres, os filhos de colonos, não qualificados com baixo nível de escolarização ou analfabetos, com pequena passagem pela escola, buscando, na cidade grande emprego e sustento familiar. Ousaria acrescentar a essa descrição também a realidade de nossas escolas locais, onde a presença de jovens e adultos egressos do ensino fundamental regular, com histórico de reprovação, evasão ou necessidades aprimoramento profissional e, consequente, conclusão de estudos também fazem parte deste universo.

Pensamento e linguagem
A autora também define o seu lugar social: “a condição de 'não-crianças', a condição de excluídos da escola e a condição de membros de determinados grupos culturais.” (Oliveira, 1999) Portanto é possível afirmar que este alunado tem relações vínculo com o grupo social do trabalho e comunidade, é membro ativo em suas famílias e possui vivências, saberes e reflexões, assim como estruturas cognitivas peculiares provocadas pelas experiências de vida: “ provavelmente, maior capacidade de reflexão sobre o conhecimento e sobre seus próprios processos de aprendizagem.” (Oliveira, 1999). Sua faixa etária é bastante abrangente, acolhendo desde o adolescente, o adulto até membros da terceira idade.
Em comum os discente do EJA trazem consigo sua condição de excluídos da escola regular, baixa estima motivada pela repetência e exclusão social, baixa escolaridade e as características de seu grupo social de origem.
Esta descrição delineia o perfil heterogêneo deste grupo discente, o que revela a complexidade do trabalho escolar, buscando compreender suas estruturas psíquicas e cognitivas, no desenvolver de sua função cultural.

b) Dificuldades dos alunos jovens e adultos em sala de aula e no cotidiano de suas vidas
Dentre os vários fatores que a autora enumera como dificultantes no desenvolvimento desta clientela, apresenta-se o desconforto emocional(vergonha) em razão da idade cronológica, pré-concebendo que, ao frequentarem novamente escola, serão comparados às crianças, auto-rotulando-se como incapazes de aprender (insegurança). A autora também cita sua principais dificuldades cognitivas:
[...] pensamento referido ao contexto da experiência pessoal imediata, dificuldade de operação com categorias abstratas, dificuldade de utilização de estratégias de planejamento e controle da própria atividade cognitiva, bem como pouca utilização de procedimentos metacognitivos. (Oliveira,1995)

Porém não podemos atribuir unilateralmente estas dificuldades apenas aos indivíduos que dela participam. As instituições educacionais, enquanto responsáveis por este processo educativo ainda não correspondem às reais necessidades desta clientela. Os currículos, programas de conteúdos, metodologias não foram concebidos originalmente para estes, portanto precisam ser revistos e adequados aos interesses e necessidade dos mesmos; a autora menciona a “falta de sintonia entre a escola e os alunos que dela se servem.”(Oliveira, 1999)

Ao refletirmos sobre o papel da escola nesta modalidade de ensino não podemos desprezar a linguagem e as regras específicas de funcionamento da escola: elas são desenvolvidas e apreendidas em seu interior, no processo educativo desencadeado (símbolos, regras, linguagem).
Explicita a autora:
Muitas vezes a linguagem escolar mostrou ser maior obstáculo à aprendizagem do que o próprio conteúdo. Compreensão de instruções, particularmente quando por escrito, também constituía, ainda, grande parte do problema a ser resolvido. (Oliveira, 1987, p. 19-29)
c) Conceitos relevantes para a prática pedagógica em EJA.
Para não ser repetitivo não me deterei em abordar as questões já desenvolvidas nos enfoques anteriores, como: especificidade cultural, exclusão do ensino regular, os aspectos psicopedagógicos, fracasso escolar, evasão, repetência, práticas inadequadas, heterogeneidade cultural.
A autora foi bastante pródiga em reflexões pertinentes ao universo psico-pedagógico, estrutural-cognitivo, cultural e social em suas provocações, porém penso ser fundamental para a compreensão e atuação pedagógica na Educação de Jovens e adultos, aquela consideração com que Marta Koll Oliveira conclui seu trabalho, pois encerra e pontua vários conceitos através dela:
A escola voltada à educação de jovens e adultos, portanto, é ao mesmo tempo um local de confronto de culturas (cujo maior efeito é, muitas vezes, uma espécie de “domesticação” dos membros dos grupos pouco ou não escolarizados, no sentido de conformá-los a um padrão dominante de funcionamento intelectual) e, como qualquer situação de interação social, um local de encontro de singularidades.(Oliveira, 1999)

Estão presentes nesta conclusão os conceitos de: interação entre diferenças culturais, suas significações, visões diferenciadas de mundo, pertencimento a grupos sociais e papéis diferenciados, conquistas psicológicas e culturais, singularidade do processo de cada sujeito, recriação cultural e negociação interpessoal, múltiplas trajetórias de vivência e construção do conhecimento, sem desprezar o entrecruzamento entre o psiquismo pessoal, biológico, histórico e cultural.

Referência Biblográfica:
OLIVEIRA, Marta Koll. Jovens e Adultos como Sujeitos de Conhecimento e Aprendizagem, Trabalho Apresentado na XXII- ANPEd, Caxambu,1999.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

PAULO FREIRE E OS TEMAS GERADORES


Interessante registrar que em minha prática pedagógica eu já havia utilizado a construção de temas geradores, porém sem esta reflexão sobre a dialogicidade, que Paulo Freire defende ser imprescindível ao processo de libertação do indivíduo:

[...] o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de idéias a serem consumidas pelos permutantes.”( FREIRE, 1987)

Portanto é convencido que a educação deve transformar e libertar o indivíduo que Freire apresenta e defende a construção de temas geradores a partir da leitura de mundo que os educando trazem consigo para, numa constante práxis, tomar posse de sua cidadania: “ para em diálogo com elas, conhecer, não só a objetividade em que estão, mas a consciência que tenham desta objetividade; os vários níveis de percepção de si mesmos e do mundo em que e com que estão.”( FREIRE, 1987)

É por meio da dialogicidade que se revelam a reflexão sobre a realidade que os educandos já trazem construída, seus níveis de percepção visão e sua leitura de mundo. “É o momento em que se realiza a investigação do que chamamos de universo temático do povo ou o conjunto de seus temas geradores.”( FREIRE, 1987)

Estes temas geradores serão o resultado desta reflexão coletiva em torno de temas de relevância e significado para o grupo, referendando suas aspirações, desencadeando de forma sistematizada nas as temáticas que serão abordadas e desenvolvidas na organização e planejamento de conteúdos.

Portanto, o que Paulo Freire postula não é apenas um fazer pedagógico diferente e eficiente, ou uma nova metodologia de ensino. Através dos temas geradores e da dialogicidade que eles suscitam, o autor preconiza uma educação contextualizada, significativa, politizada, não partidária, nem neutra, porém libertadora, pois promove a consciência individual e coletiva, crítica e construtiva, visando a transformação social e, consequente, humanização.

Referência Bibliográfica:
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 27.ª ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1987.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

TRABALHANDO COM PROJETOS


A proposta de trabalho por projetos desacomoda a postura da escola tradicional, que predispõe e professor como personagem central (único responsável) e articulador inciativas de aprendizagem: rompe com este paradigma. Propõe que o docente seja um mediador na construção de novos saberes e que o aluno participe ativamente do processo de planejamento e articulação de metodologias com a finalidade de novas e significativas aprendizagens. Partindo não somente de seus interesse pessoais, mas aqueles de relevância ponderados e discutidos pela turma, que passa a construir coletivamente através de definição do tema, índices de trabalho, sínteses e conferências, a ressignificar conhecimentos anteriores, alicerçando novos saberes.

Na Educação Infantil a pedagogia de Projetos, conforme o nível de compreensão do alunos, está voltada para a descoberta do mundo objetivo que cerca a criança: à construção de noções e definições que sirvam de alicerce para novos conhecimentos, saberes e aprendizagens. Sua tendência natural na escolha dos temas e metodologias de aprendizagem é a repetição do processos já experimentados, o que necessita da intermediação do professor para provocar novos desafios.
Os anos iniciais de ensino aprofundam as relações com estes saberes já construídos e ainda necessitando de concretitude, via interação, utilização e apropriação prática dos conceitos construídos, visam o domínio de novas habilidades a serem desenvolvidas como leitura, pensamento lógico-matemático, observação reflexiva dos elementos naturais, etc.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O NASCIMENTO DO DISCURSO NARRATIVO INFANTIL


Enquanto a criança relata suas hitórias percebe-se que ela exercita seu poder expressivo de criação, construindo e reconstruindo o desenvolvimento, articulando expressões, organizando o pensamento em frases, num fluente exercício intelectual de oralização e organização de seus pensamentos.

Monique Deheinzelin afirma que:” é a partir de uma atitude sincrética da criança” reunindo e oralizando a realidade e o imaginário, a ficção e experiência vividas nascem as primeiras tentativas na busca de construir discursos narrativos, o que Maria Cecília Perroni referenda como o nascimento do discurso narrativo da criança.

Importante também é ressaltar que é através da linguagem que o pensamento se organiza, conforme afirma Gastaldi: "O pensar não se estrutura internamente, mas no momento da fala", portanto, “a narrativa modela e estimula a atividade mental”.

Como numa permanente brincadeira,o jogo do faz de conta faz parte do processo criativo mesclando realidade e ficção, num processo de exercitar repertório de expressões recolhidas desde o nascimento, na interação com seus interlocutores e nos espaços sociais que tiver vivenciado, fazendo parte de seu discurso narrativo. Por outro lado este exercício mental e oral promove uma reconstrução da realidade de forma a aprender a lidar, psicologiamente, com tal situação.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

REFLETINDO SOBRE A ANÁLISE DOS PAs

É, no mínimo enriquecedor, nós aprofundarmos as dicussões em fóruns de construção, num processo de outramento, assim como analisarmos o processo de construção dos PAs de outros grupos, além do nosso, verificandos suas certezas, dúvidas e, buscando no processo, amadurecer.
Tudo isso revela, na prática, o modelo sócio-interacionista, desenvolvido por Piaget, que preconiza que a aprendizagem se dá na interação entre sujeito, objeto e meio. Em nosso caso, alunos do PEAD, nossas construções e interações. Isto evidencia que a própria teoria,a qual estamos nos apropriando está conduzindo nosso processo de aprendizagem acadêmica.

domingo, 27 de setembro de 2009

RELAÇÃO MATURAMA PIAGET


Enquanto Piaget aprofundou seu estudos construindo a epistemologia genética, Maturama também formulou sua teoria da construção do conhecimento, nomeando-a como Biologia do Conhecer, “contando com os efeitos subjetivos resultantes de modificações na estrutura da convivência” (REAL, 2007, p.1), em outras palavras: ênfase nas relações afetivas que permeiam a aprendizagem. Por isso mesmo este autor questiona o representacionismo que ignora a ação subjetiva do sujeito na construção de conhecimento, afirmando que: “A atividade cognitiva explica-se pela hipótese segundo a qual um sistema age a partir de representações internas.”(VARELA, 2002).
Portanto, a percepção é um processo ativo na produção de hipóteses, e não um simples espelho de um determinado ambiente,(REAL, 2007, p. 3), como postula o representacionismo. Sendo assim, somos co-autores da existência humana, não somente na produção de conhecimentos, mas também na re-construção de realidades.

Segundo Maturama: “a realidade que vivemos depende do caminho explicativo que adotamos, e este depende do domínio emocional no qual nos encontramos no momento da explicação"(MATURAMA,1999, p. 265)

O acoplamento estrutural, assim nomeado por Maturama, é o resultado das interações entre o sujeito, o objeto e o meio, o que Piaget chamava de processo de aprendizagem: assimilação, acomodação, adaptação, equilíbrio, conflito, construindo mecanismos, estruturas de de aprendizagem.

domingo, 20 de setembro de 2009

* MEIOS DE PRODUÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO


Assim como a invenção do fogo, da roda, da escrita foram tecnologias determinantes de transformações, em suas épocas, nos destinos da humanidade, a linha de montagem em série, desenvolvida pela Ford, não alavancou apenas mudanças tecnológicas, no campo do trabalho, mas sistematizou um novo modo de produção impulsionando a Revolução Industrial, a re-estruturação dos meios de produção, promovendo a ideologia capitalista e seus desdobramentos no campo social, político e cultural, em âmbito mundial. A educação, enquanto movimento cultural da sociedade, também é produto e alvo destas transformações.

Advem desta formatação ideológica, a educação fragmentada em disciplinas e saberes desconectados que temos hoje. Tal compartimentalização de saberes reflete aquelas estruturas de dominação promovidas para que os trabalhadores atuassem mecanicamente, sem consciência, valor e amplitude de seus direitos e fazeres, como peças de uma gigantesca engrenagem, que poderia ser substituída ao menor desgaste. Mesmo que este modelo de educação esteja comprovadamente falido e a sociedade clame por mudanças, mesmo assim, se insiste em manter esta estrutura educacional que gera exclusão e dominação. Um novo paradigma tecnológico já se projeta e a necessidade de mudanças urge.

“Os novos modelos de produção industrial, sua dependência das mudanças de ritmo nas modas e necessidades preferidas pelos consumidores e consumidoras, as estratégias de competitividade e de melhora da qualidade nas empresas, exigem das instituições escolares compromissos para formar pessoas com conhecimentos, destrezas, procedimentos e valores de acordo com esta nova filosofia econômica.”(Santomé,1998, p. 19)

Vislumbra-se, no horizonte educacional, então, finalmente mudanças, mas estas reguladas pela necessidades do mercado, suscitando flexibilidade, descentralização e autonomia, em suma, qualificação que deve ser medida a partir de padrões empresariais de eficiência e competência.

Atualmente já percebemos a ação destes mecanismos: índices de avaliação, avaliação externa, provas (SAEB, SAERS, IDEB, ENEM) promovidas pelos órgãos que deveriam dar suporte técnico-estrutural a educação, prestando-se ao mero papel de avaliadores, se auto-descomprometendo, com sua função de mantenedores; formação continuada de professores como únicos responsáveis e incompetentes em gerir o processo educacional, onde a educação não é prioridade, mas discurso eleitoral para arrecadar votos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

REFLETINDO SOBRE OS FÓRUNS


Quando iniciamos nossos estudos no PEAD e começamos a construir nossas aprendizagens, pairava, em mim uma dúvida: como iremos enriquecer nossa formação sem a interação presencial, sem as trocas de experiência, afeto, coleguismo e companheirismo, conhecimentos e aprendizagens, posto que a mesma é fundamental para nosso crescimento individual e coletivo da formação, necessários a uma graduação de qualidade?
Eu ainda não vislumbrara a proposta de interacionista da educação a distância, que era meta desta instituição: vencer a distância com a presença significativa, síncrona ou assíncrona.
Atualmente, tendo vencido seis semestres de estudos tenho outra visão de estudos a distância, assim como, de sócio-interacionismo, enquanto proposta de ensino e aprendizagem. Constato a riqueza de nossos fóruns, as reflexões e aprendizagens de cada um e a caminhada percorrida por todos, neste grande exercício de construir e re-construir a si mesmo, provocada pelas interações e propostas de ensino.
Ao ler o texto “Aprender com os outros” de autoria da professora Luciane Corte Real, vislumbrei o nosso curso e a proposta do PEAD, claramente delineada: aprendizagem fundamentada, segundo Piaget e a descrição da professora, nas “relações que se estabelecem entre o sujeito que conhece e o mundo que tenta conhecer.” (Real, 2007,p.1)

“O encontro com este outro só poderá se dar a partir da estrutura cognitiva (que, de início, é reflexa) de cada um dos envolvidos no processo, necessitando de um longo processo de descentração de cada um dos participantes para a distinção dessa alteridade.” (Real, 2007, p.1)

Foi o que aconteceu conosco, inicialmente nos fóruns e interações: estávamos centrados em nós mesmos, no que havíamos acumulado, enquanto bagagem de vida, com medo de desconstruirmos algumas certezas transitórias e com muitas dúvidas relativas. Atualmente, percebo que já realizamos o processo de descentração, relativamente e buscamos valorizar as trocas, intervenções e contribuições entre nós, como forma de crescimento mútuo e coletivo, na formação. ISTO SIGNIFICA CRESCIMENTO, PROGRESSOS, APRENDIZAGEM.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

* O LIVRO DIDÁTICO EM COMÊNIO


Para contexto da época, o ensino tradicional diretivo, baseado na inciativa e condução do processo centrada na pessoa do professor, Comênio buscou associações com as vivências de seus alunos, sistematizadas em desenhos para a construções de referenciais alfabéticos, isto é, as letras e respectivos sons; partindo destas associações significativas, para aquele contexto, na efetivação um código fonêmico para o ensino da escrita e leitura, sem desprezar, mas relacionando, o latim, língua fluente para a época, e o alemão como língua Pátria. Os alunos eram induzidos a relacionar fenômeno- desenho, fonema e letra na construção de um código de escrita e leitura.

Em sua obra DIDÁTICA MAGNA, Comênio apresenta didática como maneira eficiente e segura de ensinar e aprimorar o ser humano durante o processo educacional, descrevendo os fundamentos necessários à eficácia do mesmo. É surpreendente constatar a amplitude e profundidade sobre a visão das práticas pedagógicas, que Comênio já apresentava no século XVII, bastante avançado para sua época. O fundamento de suas reflexões embasam o que, atualmente, são nossos princípios de nossa ação pedagógica, aos quais cito: o respeito a capacidade de compreensão do aluno, sua motivação, a graduação das dificuldades em atividades propostas, educação para todos os grupos sociais, a valorização das experiências do aluno, como referenciais estruturais para a construção de novos conhecimentos e aprendizagens, o relacionamento fraterno entre professor e aluno, buscando no estabelecimento de vínculos afetivos a superação das dificuldades pessoais e educacionais. Nossas práticas pedagógicas estão permeadas pelos fundamentos que Comênio, em seu tempo, preconizava, porém sem que soubéssemos de suas reflexões e princípios, desde a formação no Magistério, foram amplamente discutidas e implementadas. Ex.: O construtivismo desenvolvido hoje, assim como, o Orbis Pictus, é uma construção na busca de referenciais significativos, em seu contexto, para a aquisição do código de escrita e leitura no processo de alfabetização (para dar um exemplo).

*DESENVOLVENDO AUTONOMIA E CRIATIVIDADE

A partir da leitura do texto "O Menininho" de Helen Buckley construí a seguinte reflexão, segundo as provocações da titular da interdisciplina:

Viemos de uma escola tradicional que privilegia modelos de racionalização como forma de formatação e controle intelectual, político e social (ditadura militar). Muitos de nós, professores, sofremos os revezes deste modelo ideológico que privilegiava a manipulação das massas conforme a classe dominante de então. O resultado disto são pessoas sem iniciativa, criatividade, dependente das opiniões externas, incapazes de produzir com autoria e autonomia. O primeiro desafio frente a aquele aluno será resgatar a auto-estima do menino, valorizando suas iniciativas e saberes, suas capacidades, incentivando-o a exprimí-las através dos trabalhos propostos, enfocando o prazer de produzir algo único, valorizando sua autoria.

Minha postura pedagógica é aquela que propõe atividades e sugere formas de realizá-la, abrindo espaço para inciativas peculiares de cada aluno. Se proponho um desenho temático esclareço o objetivo que quero com a atividade e abro para as intervenções e interações do aluno, assim como valorizo as concepções por ele manifestadas na construção de sua obra, seja ela desenho, pintura, modelagem, construção textual, etc. Este posicionamento propõe metas a atingir, sem desprezar as etapas e diferentes níveis de produção, assim como, favorece a iniciativa, privilegia a autoria e desenvolve autonomia.

Sempre me perguntei isto: que aprendizados meus alunos levam consigo para a vida? Recentemente um ex- aluno passou por mim e exclamou:"-Violência só leva a mais violência, né professora Marta?!" Percebi que minha maior contribuição pedagógica e humana para a formação de meus alunos é a escala de valores por traz de minhas posturas e atitudes: aquilo que não digo, mas que me move, naquilo que acredito e é coerentemente explicitado em minhas práticas: o amor e o prazer de educar. Já encontrei vários alunos que, após terem crescido, recordam-se prazeirosamente das aulas e da atenção a eles devotada. Penso que minha marca é o amor e respeito ao ser humano em formação, proposta de ações embasadas em valores, juntamente com a dedicação.

PEAD VII- SEMESTRE

Neste sétimo semestre de estudos, no PEAD, construiremos muitas reflexões, enquanto evidências de aprendizagens nas seguintes interdisciplinas:
  • DIDÁTICA, PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO;
  • EJA- Educação de Jovens e Adultos no Brasil;
  • LIBRAS- Linguagem Brasileira para a educação de Surdos-mudos;
  • LINGUAGEM EM EDUCAÇÃO;
  • SEMINÁRIO INTERADOR VII

domingo, 21 de junho de 2009

REFLETINDO SOBRE INCLUSÃO


Realizando as leituras previstas para esta discussão deparei-me com aquela situação descrita no texto Deficiência Mental de Maria Sylvia Cardoso Carneiro, onde a autora escreve sobre os “Diferentes olhares sobre a deficiência mental a partir de Jean Itard”.

A autora descreve o desafio que Itard assume ao aceitar a tarefa de educar o menino selvagem, então conhecido como Victor de Aveyron, principalmente após do célebre Philippe Pnel já tê-lo diagnosticado como idiota, sem esperança de ser educado.

Reflexão sobre o fato: Se um psiquiatra de reputação inquestionável e conhecedor do assunto pode tecer um diagnóstico excludente, sem considerar o ser humano, que por ser humano apresenta-se em constante construção, portanto capaz de novas aprendizagens até o final de seus dias, quanto mais nós, simples mortais, somos capazes destas avaliações parciais que levam em conta apenas a nossa individualidade ( pra não dizer umbigo).
Não quero, nem desejo defender ou acusar ninguém, mas alertar de somos capazes de avaliações parciais de caráter, de justiça, de preconceito, de acomodação. Então, com que olhar e sobre que ótica estamos enxergando o nosso aluno?Aquele, de nossa acomodação, ou, como Itard o abraço do desafio e do respeito humano que o nosso aluno merece?

No filme A História de Peter, um documentário verídico, do processo de inclusão de um menino com um quadro de deficiência mental, o olhar da professora frente a evolução do menino também foi se transformando a medida que ela percebe que aquele ser humano é capaz de mobilizar suas capacidades e transformar a si mesmo, apesar de suas dificuldades. Será que podemos negar este direito a um outro ser humano em formação?

Estes textos, vídeos e esta interdisciplina me fizeram refletir que, apesar das dificuldades, este desafio é possível de se abraçar, mesmo porque já praticamos inclusão há muitos anos, só que sem legislação, laudo, apoio ou suporte pedagógico. Só com o amor ao ser humano. Sei que há profissionais descomprometidos, mas há outros que, silenciosamente, dignificam a vida do ser humano.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

EDUCAÇÃO PARA ADORNO E KANT


Ambos primam pela educação como forma de humanizar o próprio homem , utilizando-a como instrumentalizadora de mentes e consciências capazes de dignificá-lo elevando-o a condição de autonomia para o bem comum, na construção uma realidade dignificante, numa sociedade que valorize o direito e o respeito a vida.

Entre outras intervenções Kant manifesta seu ideal:
“A educação é uma arte, cuja prática necessita ser aperfeiçoada por várias gerações. Cada geração, de posse dos conhecimentos das gerações precedentes, está sempre melhor aparelhada para exercer uma educação que desenvolva todas as disposições naturais na justa proporção e de conformidade com a finalidade daquelas, e, assim, guie toda a humana espécie a seu destino.”

Já Adorno demonstra sua preocupação e ideal manifestando a seguinte reflexão:
“Se falo da educação após Auschwitz, tenho em mente dois aspectos: primeiro, a educação infantil, sobretudo na primeira infância; depois, o esclarecimento geral, criando um clima espiritual, cultural e social que não dê margem a uma repetição; um clima, portanto, em que os motivos que levaram ao horror se tornem conscientes, na medida do possível.”

Portanto, ambos defendem a educação como forma de dignificação do ser humano, promovendo a superação da selvageria e barbárie que o homem sem educação, moral e ética é capaz de promover.
Por outro lado Kant, em sua reflexão Sobre a Pedagogia, defende que:

“Um erro, no qual se cai comumente na educação dos grandes, é o de não se Ihes opor nenhuma resistência durante a juventude, porque estão destinados a comandar. No homem, a brutalidade requer polimento por causa de sua inclinação à liberdade.”

“O homem tem necessidade de cuidados e de formação.

A formação compreende a disciplina e a instrução.”

“Quem não tem cultura de nenhuma espécie é um bruto; quem não tem disciplina ou educação é um selvagem. A falta de disciplina é um mal pior que falta de cultura, pois esta pode ser remediada mais tarde, ao passo de que não se pode abolir o estado selvagem e corrigir um defeito de disciplina.”

Aparentemente, as posturas defendidas pelos pensadores parecem ser antagônicas, mas se analisarmos com maior profundidade e reflexão perceberemos que estas são complementares, pois ambos descrevem a necessidade da disciplina para o desenvolvimento e aprimoramento humano, como forma de lapidar a essência humana. Adorno demonstra e exemplifica, através de Auschwitz, as condutentes formas que a disciplina pela discilplina produzem no ser humano: frieza, arrogância, insensibilidade e desumanidade. Kant demonstra a necessidade da disciplina bem dosada é essencial para o aperfeiçoamento do caráter do homem. O sim e o não, os limites, o respeito para com a opinião e pela vida do outro passam também pelo uso e aplicação corretos da disciplina.

domingo, 31 de maio de 2009

EDUCAÇÃO, CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE


REFLEXÃO PESSOAL
No texto Educação após Auschwitz ....Theodor Adorno atualiza para a sociedade contemporânea os horrores que marcaram a humanidade acontecidos naqueles campos de concentração nazistas, em meados do século XX. Sua reflexão principal remete aos perigos de uma re-edição real daquela barbárie instrumentalizada a que foram submetidos judeus, poloneses e soviéticos em nome de uma pretensa supremacia racial.

Entre os fatores que Adorno cita como desencadeadores daquele processo de dizimação em massa, prática de dominação, usurpação da vida humana, o autor destaca a anti-civilização, reforçada por Freud, a desagregação social, o auto poder de manipulação de massas concentrado nos meios de comunicação, a coisificação do consciente, a educação pela disciplina da dor ou dureza, a busca do interesse próprio em detrimento ao dos outros, a incapacidade de identificação.

Em determinado trecho o autor reflete e indica alguns caminhos preventivos com sugerindo medidas e investimentos necessários para que se evite os horrores de um novo holocausto.

“Se falo da educação após Auschwitz, tenho em mente dois aspectos: primeiro, a educação infantil, sobretudo na primeira infância; depois, o esclarecimento geral, criando um clima espiritual, cultural e social que não dê margem a uma repetição; um clima, portanto, em que os motivos que levaram ao horror se tornem conscientes, na medida do possível.”

Nesta reflexão o autor aponta para a responsabilidade e o valor educativo das instituições educacionais quanto ao seu papel na formação das novas gerações na construção de valores de paz, ética, respeito as diferenças, convivência multi-racial e religiosa e, acima de tudo, educação para a sensibilidade e fraternidade para com o outro e não pela dureza causada pela “rígida disciplina da dor”, como reflete o autor.

Num segundo momento, Adorno, enfatiza o estudo sistemático das causas e motivações que levaram àquele genocídio humano, investigando com todos os segmentos oferecidos pelas ciências as suas origens, raízes e potencializações para que de posse destes dados a sociedade constituída possa investir em ações que neutralizem e extirpem qualquer possibilidade de re-edição daquela barbárie instrumentalizada.

Porém o autor sinaliza para alguns perigos iminentes que podemos perceber claramente em nossa sociedade atual.

“A meu ver, a medida mais importante contra o perigo de uma repetição, é contrapor-se a qualquer supremacia coletiva cega e aumentar a resistência contra ela, focalizando o problema da coletivização.”

Nesta abordagem o autor faz menção a “supremacia coletiva cega” que pode ser entendida como aquela exercida por uma nação ou pessoa que detiver o poder absoluto, ou por um sistema de idéias como o atual capitalismo selvagem que observamos imperando em nossos desdobramentos sociais nacionais e internacionais e a consequente globalização de culturas submetidas aos princípios reguladores de mercado.

Também aqui se verifica a importância educacional das instituições ao privilegiarem estudos críticos e aprofundados com respeito aos acontecimentos históricos e atuais refletindo e participando de ações políticas e sociais visando a prática de direitos civis de cidadania e democracia.

“...ao se colocar o direito de Estado acima do direito dos membros da sociedade já está criado o potencial para o horror.”

Outro alerta que o autor faz e que podemos constatar flagrantemente em nossa sociedade é a crescente desagregação social evidenciada pela desestruturações familiares, uso de drogas, formações criminosas como gangs, quadrilhas, comandos e facções, partidos secretos de extermínio, entre outros.

“Aquilo que exemplificava apenas alguns monstros nazistas poderá ser observado hoje em grande número de pessoas, como delinqüentes juvenis, chefes de quadrilha e similares, que povoam o noticiário dos jornais, diariamente.”

Já temos notícias de índios e mendigos sendo incendiados, grupos neo-nazistas assassinando pela disputa de liderança, serial-kilers promovendo mortes em massa em universidades, lançamento de mísseis em exibição clara de força provocativa ao enfrentamento internacional, sem esquecer da miséria a que estão submetidas populações inteiras na África e em países do oriente por motivações político-raciais de dominação. Portanto já temos sérios indícios de que há potencial para uma nova barbárie como aquela de Auschwitz e esta com maior poderio bélico e tecnológico a serviço do racionalismo humano.

É possível constatar, conforme o autor reflete, que, “a sociedade civilizada” está produzindo a anticivilização, principalmente, condenando seres humanos a indignidade da marginalização, promovida por um sistema de ideológico excludente, que privilegia alguns, aqueles que detém poder e capital, submetendo a outros a sub-humanidade. Enquanto estes manipularem o sistema desprezando as necessidades dos excluídos, produzindo mais e mais marginalizados teremos as condições necessárias para um novo holocausto, e ele não tarda.

Para resgatarmos este quadro caótico não basta a ação eficiente da escola, mas há toda uma estrutura de sociedade, ideologias, dominação e interesses mundiais que precisam ser re-pensadas e re-programadas para bem da justiça social, da paz e da dignidade humana.

domingo, 17 de maio de 2009

DILEMAS EDUCACIONAIS- Versão 2


Resolvi realizar uma segunda versão deste trabalho por dois motivos: a cópia oferecida pelo pólo era defeituosa e não apresentava as cenas finais do filme onde o professor faz uma grande reflexão de vida a cerca de suas atitudes e seu trabalho educativo. Por isso, relendo o trabalho anterior e refletindo sobre o mesmo o achei incompleto e, que poderia ser melhorado. O segundo motivo foi a oportunização de prazos mais dilatados. Este último fator é primordial na construção da consistência da reflexão e aprimoramento qualitativo, não simples execução de tarefas previamente agendadas.
RESENHA
O professor, ao majorar a nota do aluno indisciplinado, busca desafiá-lo a aprimorar suas capacidades, alterando a classificação natural de desempenho da turma, deixando um dos classificados fora do concurso. Embora seus objetivos fossem nobres, buscando incluir e desafiar aquele aluno a desenvolver seus potenciais cognitivos, valores e ética, o docente não exita em corromper, ele mesmo, o concurso desclassificando o aluno mais capacitado, promovendo sua consequente frustração.


Buscando resgatar a lisura do evento, ao perceber o uso do expediente cola escrita e, num segundo, momento cola eletrônica, numa explicita demonstração de falta de ética, princípios e valores morais naquele aluno, o professor busca manter seus princípios a cerca da disputa justa, utilizando estratégia de aprendizagem de valores inserida nas perguntas finais.


Constatando seu insucesso na tentativa de desenvolver princípios éticos e virtudes naquele aluno, o professor então, questiona-se e avalia a consequência de suas atitudes, posturas e valores inseridas em suas práticas de ensino e a repercussão destas na vida de seus educandos. Vai ao encontro ao ex-aluno, então desclassificado naquele concurso, revelando-llhe que o mesmo obteve merecimento e deveria ser um dos finalistas. Com esta atitude procura redimir-se, mesmo que, tardiamente, do ato de exclusão, resultado daquela re-classificação.


Eis sua reflexão relatada no filme: “ O valor de uma vida não é definida pelo sucesso ou fracasso solitário. Meus outros alunos me ensinaram isso.”


“ Por mais que tropecemos o dever de um professor é esperar que o ensino mude o caráter de um aluno e, assim, o destino de um homem.”


REFLEXÃO:
Os princípios morais envolvidos na decisão do professor, por ocasião da mudança na classificação, foram a busca da promoção das potencialidades, competências e habilidades, naquele aluno, resgatando-o de seus desvios de conduta até ali demonstrados; a busca do desenvolvimento de valores e princípios éticos de justiça, lisura e democracia. Porém o docente modificando os critérios de avaliação, feriu os princípios éticos de empenho, capacitação, merecimento e justiça exigida na avaliação dos alunos, passa, ele mesmo a corromper o processo. Corrompendo o processo, o professor privilegiou a indisciplina e a falta de objetividade nos estudos promovida pelo aluno descomprometido.


Buscando redimir-se com o aluno desclassificado de sua iniciativa infrutífera, anos mais tarde, o professor resgata a compreensão deste aluno e os seus princípios éticos, feridos até então. Em reconhecimento ao valor deste educador e da coerência de sua conduta, conforme seus seus princípios éticos e morais o ex-aluno lhe confia, então, o filho para que este também possa desenvolver uma educação e vida pautadas em valores princípios éticos e morais, não apenas conhecimentos formais.



Este filme sucita outras reflexões além da postura e corência éticas entre professor e aluno. Uma delas diz respeito a construção da cidadania, ética e moral formatada pela sociedade, o que não é, necessariamente aquela que prima por valores de vida e cidadania coerentes.



Interessante destacar a homenagem escrita por um dos alunos ao seu professor:


Um grande professor tem pouca história para registrar. Sua vida se prolonga em outras vidas. Homens assim são pilares na estrutura de nossas escolas, mais essenciais que seus tijolos e vigas. E continuarão a ser centelhas e revelações em nossas vidas.( no filme não foi citado sua autoria)

domingo, 10 de maio de 2009

DILEMA EDUCACIONAL


Relacionando o filme “O Clube do Imperador” com o texto “ A defesa de Sócrates” vejo que ambos têm em comum a educação de jovens, a preocupação com a formação ética e cultural dos mesmos.

Sócrates, acusado por Meleto de corromper a juventude com seus questionamentos a cerca do saber, presta sua defesa à sociedade Ateniense da época, fazendo uso, de sua eloquente dialética e reflexão a cerca das verdades e incoerências afirmadas por Meleto em sua acusação. Questionando a ética, os valores, a coerência da sociedade em si, Sócrates provoca a reflexão a respeito da educação formatada por àquela sociedade a seus jovens e das verdades perpetuadas por seus membros.

O filme “O Clube do Imperador” demonstra mais uma vez que a educação não é neutra e, nem pode ou deve ser ingênua, pois em qualquer decisão, ação e atitude do professor e do aluno, estão impressos códigos de valores e ética, presentes em cada manifestação humanas e, a cada uma destas equivalem consequentes resultados sociais.

domingo, 3 de maio de 2009

DILEMAS EDUCACIONAIS


O texto apresentado para discussão no fórum O Dilema do Antropólogo Francês promoveu a reflexão e debate a cerca dos posicionamentos éticos e morais adotados pelo mesmo e suas consequências de sua interferência ou não naquela cultura.

“Refletindo sobre nossas interlocuções e a discussão a respeito do dilema do antropólogo francês podemos linkar à nossa prática educativa transpondo para nossa realidade cotidiana, pontuando:
- a qualidade de nossas intervenções frente aos alunos;
- as posturas pedagógicas, sociais, humanas e políticas que assumimos frente aos alunos;
- a leitura que fazemos de mundo e da realidade vivenciada por nós e por eles;
- a coerência entre o que pensamos, falamos e praticamos;
- a ética adotada pessoalmente e profissionalmente;
- os valores que anunciamos explicita ou implicitamente com nossas manifestações;
- os interesses, crenças e necessidades do nossos aluno são levados em conta: sondados ou pesquisados?
A princípio, o antropólogo tentou usar de neutralidade para não interferir na cultura daquele povo. Existe a neutralidade em educação?
Pensando bem...não vivemos um dilema educacional cotidiano ao refletir nossas praticas educacionais?

Conforme minha reflexão, acima citada, concluo que tal atividade serviu como provocação para re-pensarmos nossas prática educativas, equacionando as posturas adotadas em nosso dia a dia.
Se pararmos um pouco para pensar, diariamente, enfrentamos dilemas morais, ético-profissionais, ético-pedagógicos, sociais, humanos, além daquele constante questionamento: nossos posicionamentos são coerentes com aquilo que estudamos, sabemos e acreditamos? Que tipo de seres humanos estamos ajudando a formar? Nossas práticas e posturas estão construindo que cidadãos e que tipo de sociedade?

Retomando uma de minhas conclusões a respeito da provocação promovida pelo texto: “A princípio, o antropólogo tentou usar de neutralidade para não interferir na cultura daquele povo. Existe a neutralidade em educação?”

Esta minha provocação ao grupo de debate visa também desacomodar nossas consciências e posturas, no sentidos de alertar que, cada posicionamento adotado, em nossa prática educacional, gerará, como consequência, um determinado comportamento cidadão em nossos alunos, que servirá a este ou aquele modelo de cidadania e sociedade.
Portanto, e educação nunca será neutra, pois servirá a alguma ideologia dominante, seja ela de libertação e construção de uma nova realidade social ou de manutenção das estruturas de dominação. Utilizando a linguagem metafórica dos poetas podemos afirmar que, estamos realizando semeaduras no campo político, social e humano e, que num futuro, bem próximo, que já está acontecendo, vamos colher daquilo que plantamos de acordo com aquilo que acreditamos e cultivamos.

Também se faz necessário ressaltar que, nós professores vivenciamos uma verdadeira “roda-viva” de atividades profissionais, que muitas vezes, nos impedem de refletirmos nossas práxis educacionais e de nos deparamos com estes constantes dilemas pertinentes ao nosso fazer educacional (na maioria das vezes não temos tempo de refletir sobre tudo isso, em razão da sobrecarga profissional). Não podemos ser ingênuos e creditar apenas como “ossos do ofício” em nossa correria diária. Nossa sobrecarga de atividades profissionais também é resultado de políticas de não priorização da educação, com salários defasados nos obrigando a assumirmos 2,3 ou mais escolas para obtermos os mínimo de dignidade para nossas famílias. Esta sobrecarga também serve para justificar a ideologia dominante, de que o ensino brasileiro está falido, em função da falta de preparo e inadequação dos professores, responsabilizando somente esta categoria como promotora e construtora da educação em nosso país. É bastante simplista acusar e sobrecarregar apenas uma categoria profissional e eximir pais, sociedade e políticas públicas, portanto governos que se submetem ao modelo capitalista de produção e economia, desprezando e não promovendo a educação como prioridade nacional, transformadora da sociedade. Este é o dilema estrutural no qual estamos inseridos , envolvidos e amarrados.

Se observarmos a realidade mundial constataremos que, aqueles países que priorizaram a educação através de políticas públicas eficazes na educação, construíram maior cidadania e qualidade de vida para seu povo. Será que estamos a caminho?

terça-feira, 21 de abril de 2009

MOSAICO ÉTCNICO-RACIAL

No link a seguir demosntro o passo a passo da construção do Mosaico Étnico- Racial construído por minha turma: 3º ano/EF9anos, turma 133, tarde, EMEF Ladislau Oliveira Nunes.



Neste trabalho está descrito como acontece, em minha prática educativa, o resgate histórico-cultural de raças e respeito as etnias que formam e formaram o povo brasileiro.



Clicar no link a seguir para conhecê-lo na íntegra: mosaico étcnico-racial da turma 133/09



PARA REFLETIR:
Mas o presente é vívido e empolgante quando ele está estruturado,

alicerçado por toda a teia da vida e de ancestralidade de uma pessoa
ou grupo de pessoas. É aí que mora a força da tradição indígena,
da família indígena, da educação indígena.Daniel Mundurucu, EM BUSCA DA ANCESTRALIDADE BRASILEIRA, pag.3

EU E O OUTROS, MINHA ANCESTRALIDADE

Gostei muito de realizar este trabalho resgatando minha história pessoal, meus pertencimentos, minha ancestralidade e procuro fazer o mesmo resgate com meus alunos, porque compreendendo que retomando minhas raízes, encontro com minha essência cultural ao longo dos tempos. Sei de onde vim, consciência do meu passado, sei quem sou, consciência do meu presente e posso projetar o meu futuro e da minha gente.
O link abaixo servirá para ilustrar o meu trabalho na íntegra, assim como, poderá esclarecer quem é esta aluna do PEAD, seus pertencimentos, sua cultura e ancestralidade.
Clicar no link a seguir: eu, os outros, minha ancestralidade.

terça-feira, 14 de abril de 2009

ANO NOVO, POSTAGENS NOVAS

Este é o nosso VI semestre de estudo no PEAD- pólo de Gravataí e, com certeza haverão muitas novas construções e aprendizagens.
Neste semestre cursaremos a seguintes interdiciplinas:

Seminário Integrador VI
Filosofia da Educação
Educ. de pessoas com necessidades especiais
Questões étnico-raciais na educ.
Desenv. e aprendizagem

Portanto, aguardem novidades!

Pensei em fazer algo novo neste semestre: linkar aqui os trabalhos produzidos nas interdiciplinas, na íntegra e que foram postados no webfólio do ROODA, nossa plataforma de decolagens para novas aprendizagens, pois há mais espaço para contemplar a riqueza de nossas construções, enquanto alunos do PEAD.

Vamos ver se irá funcionar e contemplar os objetivos do PEAD.

Por favor, tutores e professores registrem suas manifestações a respeito.

Clique no link a seguir para, desde já, acompanhar minhas construções também em meu wiki educacional.

http://aprendizagensnopead.pbwiki.com/