quinta-feira, 4 de novembro de 2010

ALFABETIZAÇÃO LIBERTADORA

Neste novo milênio outra discussão emerge dentro das práticas educativas dos anos iniciais: letramento ou alfabetização? Letramento e alfabetização é o que os pensadores que lemos sustentam. Não podemos dissociar o processo de codificação e decodificação de códigos (apropriação da escrita e leitura), sem como eles fazer a leitura de mundo e vice-versa.

Kleiman afirma que, sendo a escola o mais importante das agências de letramento, esta vem privilegiando apenas aquisição de códigos(alfabético e numérico), necessários a decodificação da leitura e escrita, introduzindo o sujeito, através do letramento, no processo de alfabetização, visando apenas o sucesso escolar, desprezando o letramento social, oferecidos pela família, igreja e outros grupos sociais existentes (esportes, trabalho, vizinhança, amizades, etc.) A autora relaciona e justifica tais práticas com as concepções desenvolvidas pela ideologia dominante na sociedade atual, que por sua vez alimenta a desarticulação entre oralidade X escrita, prática X teoria, indivíduo X sociedade, cidadania e participação, enfim, letrados e iletrados, constituindo segregações, discriminação e manutenção do regime exploratório, que o capitalismo propõe. Segundo Street, este é o modelo autônomo de letramento, que preconiza a neutralidade deste processo, desconsiderando o contexto social, histórico e criticidade, objetivando apenas a capacidade de interpretar e escrever textos abstratos, dos gêneros expositivo e argumentativo, valorizando o saber dizer, sem uma proposta emancipatória de cidadania.

Em contraponto a este modelo, Street coloca o modelo ideológico que: “pressupõe a existência e investiga as características, de grandes áreas de interface entre práticas orais e práticas letradas”, que dependem dos signicados, aos quais a escrita assume em cada grupo social e dependem do contexto e das instituições em que foram adquiridas. Tal modelo é compatível com os estudos e práxis pregadas por Paulo Freire, que afirmava ser possível “ um processo real de democratização da cultura e de libertação “(Freire, 1980).

Segundo Freire, a linguagem e o poder estão ligados e proporcionam uma dimensão fundamental da ação humana e transformação social. A educação pelo empoderamento é a educação que permite problematizar a realidade em que está inserido o aluno, em que a busca pela libertação reflexiva e crítica fornece subsídios para a emancipação integral do indivíduo. Percebendo estes mecanismos é que Paulo Freire postula uma educação crítica e libertadora, que reflita sobre as estruturas de poder presentes na educação, em especial , na alfabetização, não a reduzindo a simples decodificação de valores sonoros e construção de palavras descontextualizadas, mas uma leitura crítica e não submissa de mundo.

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